terça-feira, 19 de junho de 2012

O feto aprende

Segue abaixo um artigo da revista Superinteressante - Edição 130



por Denis Russo Burgierman

Não é só o corpo que se forma durante a gravidez. A personalidade, a inteligência e os traumas também estão em gestação.
Imagine como seria passar nove meses trancado em uma sala escura e morna, dormindo 16 horas por dia. O lugar, apertadinho, sem ser desconfortável, é envolvido por uma marcação de tambor constante, que não pára nem durante a noite, e por um barulho esquisito de líquidos borbulhando. Você ouve, sem poder entender, conversas abafadas do lado de fora, nas quais predomina sempre uma voz feminina clara, que parece vir de todos os lados ao mesmo tempo. Não há muito o que fazer lá dentro além de brincar com o saco transparente que te embrulha e beber o líquido quase sempre doce à sua volta.
Você já passou por isso, é óbvio – durante a sua gestação. E hoje se sabe que esse período marcou você para sempre, moldando o seu jeito de ser, os seus medos e o seu humor. A velocidade daquela batida de tambor, o carinho ou o desprezo expressos nas vozes difusas, o gosto do líquido e outros estímulos mais sutis são tudo o que um feto conhece até o parto. Se essa experiência for agradável, tudo vai evoluir para uma criança tranqüila e sensível. Se não, a gravidez pode provocar distúrbios psicológicos graves, até mesmo esquizofrenia e autismo.

O filho entende a mãe
Desde o começo da gestação, os sentimentos e os humores maternos afetam o filho, que está exposto aos mesmos hormônios que ela. Fetos rejeitados são candidatos sérios a distúrbios de comportamento.
A sala escura onde você ficou trancado é o útero de sua mãe e a batida de tambor é o coração dela. Os borbulhos que você ouviu vêm do intestino materno. As vozes abafadas são as conversas lá fora, que chegaram até você a partir do quarto mês da gravidez, quando seus ouvidos começaram a funcionar. A voz que predomina é a da sua mãe, porque alcança seus ouvidos por dois caminhos diferentes: vinda de fora, propagada pelo ar, e transmitida pelo corpo, direto das cordas vocais dela até você.
“Para a criança, essas coisas não são simples estímulos”, diz a psicóloga Vera Iaconeli, professora da Universidade Paulista (Unip) e especializada em psiquismo fetal. “Aquilo é a vida, é tudo.” Por isso, se a gestação for desagradável, a criança já vai sair do quarto escuro com uma impressão ruim da própria existência. Segundo estudos recentes, filhos indesejados pela mãe têm maior chance de nascer esquizofrênicos ou autistas. As duas doenças têm em comum o fato de se caracterizarem pela fuga do mundo real. São uma forma de se proteger da hostilidade dos outros.

Percepção sensorial

Mas como é que os filhotes percebem que são indesejados? Telepatia? Não. É que eles estão ligados à mãe pelo cordão umbilical. Se ela fica assustada, libera substâncias que também vão agir neles. Ansiedade, nervosismo e depressão também são transmitidos quimicamente por hormônios. “Toda situação de estresse atinge o feto”, resume a neuropsiquiatra infantil Theodolinda Mestriner Stocche, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto (SP).
Um experimento do obstetra austríaco Gerhardt Reinold na década de 80 comprova o efeito da química materna sobre o filho. Reinold pediu a mulheres grávidas que se deitassem, enquanto examinava o interior de seus úteros pelas imagens de ultra-som. Ele sabia que aquela posição acalmaria os fetos, mas não contou às mães. Daí fez a maldade de dizer a elas que seus filhos, segundo o ultra-som, tinham parado de se mexer. Elas ficavam apavoradas, achando que havia algo errado, e, quase imediatamente, os fetos também se inquietavam no útero, afetados pela adrenalina liberada pela mãe. É claro que nenhum deles saberia identificar o que sentiam como medo, mas não há dúvida de que eles passaram por um susto.

Emoções transmitidas
Desconfortos passageiros, como o criado por Reinold, não provocam danos irremediáveis, é claro. Mas quando a gestante passa o tempo todo deprimida por não querer a criança, culpando-a pela guinada do destino que uma gravidez pode representar, aí o feto sentirá o golpe, como se soubesse de tudo. “Ele certamente vai perceber que algo não anda bem e sofrerá”, afirma a neurologista Maria Valeriana Moura Ribeiro, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo.
Até a década passada, achava-se que só depois dos seis meses de gestação os futuros rebentos seriam sensíveis a esse tipo de estímulo. Afinal, é só no término da gravidez que as áreas do cérebro responsáveis pela memória começam a funcionar. Mas, com a sofisticação da aparelhagem de ultra-som, ocorrida nos últimos cinco anos, foi possível observar com precisão as reações intra-uterinas. Hoje, o obstetra consegue enxergar, com cores e imagens tridimensionais, até o movimento ocular do futuro bebê. Com tantas informações novas, descobriu-se que ele reage aos estímulos hormonais a partir do segundo mês de gestação.
Há quem vá ainda mais longe. O médico Eliezer Berenstein, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, acha que existe memória desde a concepção. “Mesmo antes que haja neurônios, as células devem ter alguma maneira de registrar quimicamente o que lhes aconteceu”, acredita ele. “Assim, ajudariam o embrião a não repetir experiências ruins.”

Ele está escutando tudo
Depois do quarto mês, o feto já reage a sons e ao toque e começa a criar o vínculo afetivo profundo com a mãe.
Não são só químicos os estímulos intra-uterinos que podem influir na personalidade de quem vai nascer. A partir do quarto mês, já há vários sentidos desenvolvidos, inclusive a audição. No século passado, os médicos achavam que o útero era uma cápsula acusticamente isolada do mundo. A criança ficaria então protegida de qualquer barulho que prejudicasse o seu desenvolvimento.
Nos anos 70, obstetras colocaram microfones no interior do corpo de gestantes e concluíram que os sons chegavam, sim, até lá dentro, mas que os barulhos internos da mulher eram tão fortes que pareciam abafar qualquer ruído externo, a não ser que o volume fosse muito alto. Hoje se sabe que o inquilino do útero fica bem mais protegido dos ruídos internos do que se imaginava (na verdade, os resultados anteriores tinham sido obtidos com microfones de má qualidade) e se encontra mais exposto aos sons que vêm de fora.

Conversas de carinhoNos últimos anos, surgiram experiências com hidrofones (microfones que funcionam em meios líquidos). A conclusão foi de que as conversas de fora podem, sim, ser ouvidas, mas atenuadas pela gordura e pelos tecidos da mãe – um grito lá fora soa como um lamento em voz baixa. Os resultados apontaram outra novidade: vozes graves, como a masculina, chegam mais fortes que sons agudos, como a voz feminina.
“Quem sabe, não é um recurso da natureza para habituar a criança também à voz do pai?”, se pergunta Berenstein. “A maioria dos homens não sabe o que fazer durante a gravidez e, com medo de parecerem desajeitados ou ridículos, evitam conversar com o filho em gestação”, constata o obstetra. Ele costuma aconselhar seus pacientes a falar constantemente com o futuro filho, demonstrando carinho. É claro que ele não vai entender o sentido das palavras, mas, assim como um pequerrucho qualquer, percebe e se incomoda quando os pais estão bravos ou tristes e gosta de ser tratado com afeto.
A voz da mãe chega com relativa clareza até os ouvidos do filho. “Ele se habitua a ela”, diz a psicóloga Iaconeli. “Por isso, mesmo um recém-nascido reconhece a fala materna e se acalma com ela, o que prova que a relação foi construída durante a gestação.”

Massagem precoce
Outro sentido bem desenvolvido aos quatro meses é o tato.
“É importante massagear a barriga, tocá-la sempre, fazer o feto sentir que recebe atenção”, explica Berenstein. “Na década passada, achava-se que os bebês de proveta eram mais inteligentes”, conta. “Depois descobrimos o que causava essa impressão: como a gestação deles é assistida mais de perto por motivos médicos, recebem mais estímulos e se desenvolvem melhor.”
O ideal é que toda gestação mereça o mesmo cuidado. O psicólogo francês Jean-Pierre Lecanuet, um dos maiores especialistas mundiais nos sentidos do feto, admitiu à SUPER que “muitas das coisas que estamos descobrindo agora são uma simples confirmação daquilo que alguns pais sempre souberam”. Ou seja, que seus filhos precisam de carinho antes mesmo de vir à luz.

Pré-escola dentro do útero
Nos últimos três meses de gravidez, o bebê já percebe muito do que acontece ao seu redor. Alguns pesquisadores acham que ele até começa a apreciar música e a se acostumar com a linguagem.
Quando o bebê chega aos seis meses de gestação, tem boa parte dos sentidos de um adulto. O sistema auditivo está completo, ele já percebe diferenças de claridade, tem tato no corpo inteiro, além de paladar e olfato. Por isso, alguns acontecimentos traumáticos nessa fase podem ficar em sua memória inconsciente. “No final da gestação, o feto é mais esperto do que o recém-nascido”, diz Vera Iaconeli.
É que, boiando no líquido amniótico, ele consegue se mover com mais facilidade do que depois de nascer, quando seus membros lhe parecem pesados demais.

Prazer e aversão
“Nessa fase, o bebê suga, chupa o dedo, mexe as pálpebras, soluça, brinca com o cordão umbilical”, enumera Maria Valeriana, da Unicamp. “Às vezes, ele também chora.” Os modernos aparelhos de ultra-som descobriram que, além de tudo isso, ele começa a sorrir quando algo o agrada e demonstra claramente quando sente aversão. Se a mãe come um quitute diferente, com um toque muito amargo, o líquido amniótico fica amargo também e a fisionomia do feto deixa claro que ele não gostou nada da receita exótica.
O ultra-som também revelou, pelo movimento ocular, que o feto sonha. “Ele passa 16 horas por dia dormindo e sonha durante 65% desse tempo”, diz o neurologista Rubens Reimão, especialista em distúrbios do sono. Não se sabe bem com o que ele sonha. Provavelmente, repassa o que passou durante as breves vigílias. “O final da gestação é a época em que se estabelece a maior quantidade de sinapses, as transmissões entre um neurônio e outro”, prossegue Reimão. “E, para que elas se formem, é preciso estímulo. O sonho é um momento de atividade intensa do cérebro, que favorece a criação das sinapses.” É uma etapa fundamental para a inteligência – quanto mais estímulos, melhor.

Ensino acelerado
Quer dizer então que o feto cursa uma espécie de pré-escola na barriga da mãe? Em termos, sim. “Já foi mostrado que o recém-nascido prefere e se acalma com músicas que ouviu durante a gestação”, diz Berenstein. “Acredito que a sensibilidade musical possa começar a se formar dentro do útero.”
Há histórias impressionantes, como a do maestro canadense Boris Brott, que, quando criança, estranhava a facilidade com que aprendia trechos de algumas obras. Comentou isso com a mãe, que era violoncelista, e ela lhe disse que esses trechos eram exatamente aqueles que ela tocava enquanto estava grávida e não voltou a executar depois. Também é possível que a habilidade lingüística comece a ser adquirida na fase final da gestação. As mães que conversam com o feto estariam habituando-o ao ritmo e à musicalidade da língua. “Há relatos de crianças que passaram a gravidez em um país estrangeiro, onde a mãe falava outro idioma, e depois tinham dificuldade em aprender a língua pátria”, conta Maria Valeriana.
Ainda não se sabe o quanto se pode aprender no útero. Mas não há dúvida de que, ao sair da sua salinha escura depois de nove meses, você já nasceu sabendo ser o que é. Ao menos um pouco.

Aos dois meses
O feto percebe o mundo fora do útero.
Os nervos começam a chegar aos pés, mãos e genitais. O bebê vai ter as primeiras sensações táteis e começa a sentir o contato com a mãe.
Há neurônios, mas muitos estão isolados uns dos outros. O bebê não ouve nem vê, mas já sofre com a ansiedade materna.

Aos quatro meses
O cérebro começa a decifrar os sentidos.
Boa parte das células nervosas já está formada e transmite impulsos nervosos, como os produzidos pelo tato e pela audição.
Já há nervos em quase toda a pele. O feto já sente prazer com a massagem de carinho que a mãe faz na própria barriga.

Aos seis meses
Quase todos os sentidos funcionam.
O bebê tem receptores táteis em toda a pele e em grande quantidade. Já chora e quase sorri.
O cérebro recebe impulsos nervosos vindos de todas as partes do corpo, transmitindo todos os tipos de sensações.
Os primeiros estímulos visuais permitem que o feto distinga claro e escuro.
O bebê já sente o gosto e o cheiro do líquido amniótico que o envolve.
A audição está totalmente pronta e as vozes lá fora vão habituá-lo à língua
.

Bebê a bordo!


Olá pessoal! Andei afastada do blog durante um tempo, mas foi por uma boa causa: ESTOU GRÁVIDA! É verdade, com 40 anos esperando um outro filho! E esta gestação não será tão fácil, pois já iniciou com repouso...mas sei que será por um tempinho...e meu bebê nascerá forte e saudável! Vou tentar postar algumas matérias referentes a gestação tardia e sua relação com irmãos temporões, entre outros. Por enquanto é isso, tomara que as coisas se equilibrem e eu possa ficar mais ativa aqui no nosso espaço! Uma coisa boa já aconteceu, meu filho JV foi em um passeio no mesmo dia que escutei o coração do bebezinho, e para suspresa geral, eu não fiquei nervosa com a viagem do meu filhote, coisa que a tempos passados a preocupação me deixaria aflita! São as mudanças que já se iniciam, quando tiramos o foco de nossos filhos únicos! Um beijo a todos vocês!

sábado, 2 de junho de 2012

NAMORO: Meu primeiro amor!

As crianças se apaixonam cada vez mais cedo.
O que os especialistas aconselham para
que este sentimento não prejudique a
vida dos pequenos.

Por KÁTIA MELLO
A vida, naquela primeira década, teve como marca a leveza das emoções. Crises iam embora na primeira conversa com os pais. Pequenos dilemas eram encarados e resolvidos de forma lúdica. Até que, de uma hora para outra, desencadeia-se a tempestade. A pulsação entra em ritmo frenético. Nas mãos suadas ou nos cadernos, bilhetes com mensagens do tipo: “Eu te amo. Sem você não posso viver.” É o primeiro amor, a primeira paixão, o turbilhão de sentimentos que toma conta da rotina de crianças e pré-adolescentes. Ele começa a varrer o coração dos pequenos entre os nove e os 12 anos, justamente na fase em que os hormônios iniciam sua festa no corpo humano. E pode destruir o equilíbrio da garotada, ainda despreparada para enfrentar essa avalanche de sensações. O efeito é de um nocaute. Por vergonha, as crianças levam meses para revelar o segredo. Às vezes nem contam. Os pais, pegos de surpresa, não sabem como administrar a nova realidade. Por todos esses motivos, o tema vem recebendo atenção cada vez maior de pesquisadores, terapeutas, psicólogos, pedagogos e professores. O desafio é criar ferramentas para que um sentimento nobre, fruto de uma pureza comovente, não anule, por ironia, a alegria de viver típica desta faixa etária.
O primeiro amor, atestam os especialistas, exerce um papel essencial na forma como o indivíduo irá se relacionar com o mundo e com as pessoas no futuro. Por isso, ele não pode ser tratado como simples brincadeira. “Quando é correspondida, a primeira relação amorosa faz muito bem. Eleva a auto-estima e faz as crianças se sentirem valorizadas. Além disso, a sexualidade começa a ser definida neste período”, analisa a psicóloga Cristiana Pereira, habituada a atender o público infantil e adolescente. É também o momento em que a meninada, ao pensar horas a fio no outro, descobre a abstração. O caso da paulistana Carolina Diniz, dez anos, é exemplar. “O João Pedro me emociona. Meu sonho é estar com ele o tempo todo. E ele também sonha comigo”, diz, convicta – até onde alguém com dez anos pode estar convicto – de que encontrou o príncipe encantado. Juntos há um ano e meio, Carolina e o namorado, João Pedro Pinto Leite, 11 anos, se encontram nos arredores da escola, onde, segundo ela, “a paisagem é bonita”. O entusiasmo do garoto não é menor. “É primordial fazer a Carol feliz. Se ela não estiver contente, não irá me corresponder. E aí, eu vou ficar abalado”, reflete João Pedro, que escreve poemas e os envia à amada pelo Orkut.
O pediatra Fábio Ancona Lopez, da Universidade Federal de São Paulo Unifesp), lembra que em toda paixão há um estado alterado da consciência. Com os pequenos não é diferente. “O centro do mundo passa a ser o objeto amado”, afirma. Na pré-adolescência, a criança se desenvolve nos aspectos emocional e corporal. Nessa fase, iniciam-se as primeiras experiências com o mundo externo. Meninos e meninas despertam para padrões além dos apresentados pelos familiares. Começam a se firmar sexualmente, mas ainda não têm consciência sobre seus sentimentos. Não conseguem compreendê-los. Apenas sentem, muitas vezes de modo arrebatador. A criança que diz estar amando freqüentemente acredita que aquele amor é único. Nessas horas, a habilidade para escutar os filhos é fundamental, atesta a psicóloga Cristiana. “Por mais aflitos que fiquem, os pais precisam perceber que receberam um presente do filho, que os escolheu como confidentes”, explica a especialista.
Muitos pais questionam se é hora de o filho se apaixonar. É uma postura inócua: a situação está posta e, de resto, amores não chegam em momentos agendados. O fundamental é mostrar acolhimento e reforçar os laços de confiança. Outro aspecto importante é respeitar o ritmo da criança e deixá-la tomar a iniciativa de falar sem pressões. Isabella Scuotto, dez anos, não gosta de comentar seus sentimentos com os adultos, mas confessou à mãe estar apaixonada. A menina costuma se arrumar com capricho para ir à escola. Passa batom, faz tudo para chamar a atenção do seu amor platônico, um colega de escola. Até agora, o menino não desconfia do que se passa porque Isabella não teve coragem de contar. “Quando estou ao lado dele, minha testa sua e tenho de respirar fundo para parecer normal”, relata. A estudante fez com a mãe, Fernanda Pavani, um pacto de segredo – o pai é ciumento e pode reclamar. Situação, aliás, que deve ser contornada. “Os pais precisam lidar com o crescimento dos filhos. Este é o primeiro anúncio de que a criança está se abrindo para o mundo”, explica a psicóloga Lisete Calef, também especializada em atendimento infantil.
Quando o jovem apaixonado começa a alterar sua rotina de estudo e de atividades com os amigos, o melhor é buscar ajuda. Choros por dias a fio, queda repentina nas notas escolares ou noites insones são sinais de que algo pode estar errado. A garotada também leva foras e isso provoca dor. Nada que lembre as epopéias românticas de Tristão e Isolda, mas capazes de deixar pequenas cicatrizes. A pesquisadora americana Nancy Kalish, professora de psicologia da Universidade Estadual da Califórnia, nos Estados Unidos, entrevistou 1,6 mil pessoas entre 18 e 92 anos e descobriu algo surpreendente: três em cada dez gostariam de reatar com o primeiro amor. “Muitos se separaram de seus primeiros romances por conta dos pais. Por isso, se a pessoa não estiver fazendo mal a seu filho, deixe-os em paz”, aconselhou a psicóloga em entrevista a ISTOÉ. Outro ponto importante é o respeito à privacidade da criança. Nada de bisbilhotar o computador ou a pasta da escola em busca de provas. “Respeito a Isabella. Não leio seu diário”, diz a mãe, Fernanda.
Diante da frustração amorosa do filho, não adianta dizer que há centenas de outros pretendentes. O melhor é fazê-los entender que a perda e o sofrimento são sentimentos com os quais todos devem aprender a conviver. A odontopediatra brasiliense Adriana Barreto começou a notar que sua filha Rafaela, 12 anos, chorava copiosamente todas as vezes que assistia a Meu primeiro amor. No filme, o personagem vivido pelo ator Macaulay Culkin tinha uma namorada de dez anos. Depois, vieram perguntas do tipo: “Mãe, quando você deu seu primeiro beijo na boca?” Rafaela tinha se declarado a um menino da escola. Ficou com ele por seis meses e, depois, foi trocada por outra. “Minha amiga me contou que ele tinha me traído. Fiquei muito triste”, conta ela. Rafaela chorou muito, devorou muito chocolate, engordou e afogou as mágoas escrevendo poesias. Depois passou. “Eu o perdoei porque perdôo fácil”, conta a menina. Dar importância exagerada a algo que pode ser passageiro também faz parte da lista de posturas condenadas. “Quando uma criança que não tem namorado é questionada insistentemente sobre isso, poderá concluir que há algo errado com ela”, afirma a psicóloga Lisete.
Em alguns casos, a paixão inicial do filho traz para os pais a preocupação com um outro tema polêmico: a iniciação sexual precoce. Uma pergunta freqüente é: “Se a minha filha der um beijo, ela depois irá adiante?” Quase sempre não. É preciso distinguir esse primeiro amor na pré-adolescência do que a garotada chama de “ficar”. “É diferente do ficar porque supõe fidelidade ao outro”, adverte a psicóloga Cristiana. Uma gíria comum entre esses meninos e meninas, usada em mensagens na internet, é a BV, as iniciais de Boca Virgem. “Perdi meu BV” quer dizer “dei meu primeiro beijo”. Para eles, isso é uma conquista.
Em algumas situações, a paixão de estréia pode fazer muito bem aos pequenos. Ficar com a menina mais bonita da classe é um sinal de status para os meninos. Bruno Scursoni, 12 anos, interessou-se por uma delas. Seus colegas disseram que ele não deveria perder a chance de estar com a bela garota. Ele faz questão de dizer que não é nada sério. “Não sou muito chegado em namorar”, diz ele. Apesar de negar o namoro, só o fato de ele estar ligado à menina fez com que os educadores notassem uma mudança positiva em seu comportamento. “Todos os professores disseram que o comportamento do Bruno melhorou”, afirma a pedagoga paulista Vanessa de Carvalho Salomon. Para conquistar as meninas, é comum os garotos exibirem suas qualidades na escola.
Os professores também precisam estar atentos à situação emocional da criança. E, em algumas situações, devem agir. Falante e galanteador, Thomas Anderson Esch, 11 anos, passou por uma grande desilusão. “Sofri por uma menina. Tive dificuldade na escola, principalmente em matemática. Não conseguia prestar atenção nas aulas. Só pensava nela.” A mãe, a professora Anne Anderson, foi chamada para se inteirar da situação. “Ele ficou arrasado. A gente até torceu para ele reconquistá-la, mas, ao mesmo tempo, tudo pareceu ser cedo demais”, conta ela. Thomas diz ter superado a paixão. “Agora sei que posso gostar de outras e não deixar isso atrapalhar a minha vida”, afirma ele. Em seu quarto, um porta-retrato com a foto da menina permanece virado de costas. “Nesta fase, eles sofrem muito com a rejeição”, explica a terapeuta Maria Teresa Maldonado, autora do livro Cá entre nós – na intimidade das famílias. “São os primeiros passos da alfabetização amorosa”, completa ela. Outro caso em que os educadores tiveram que intervir foi o de Jéssica Rezende, 12 anos. A pedagoga Vanessa achou que a menina, aluna de uma escola em que trabalha, poderia se expor demais por estar apaixonada por um menino mais velho. A classe inteira soube do amor de Jéssica pelo rapaz. “Eu mandei um bolo de cartas para ele. Tinha vergonha de chegar perto, ficava nervosa. Hoje somos amigos”, conta a garota. Ela não desistiu de namorá-lo um dia, mas optou por “não ficar mais na cola dele”. Bem orientada – e sem perder a ternura –, resolveu a questão da melhor maneira possível. A lição, sobretudo para os pais, é clara: é preciso sensibilidade para tentar amenizar os eventuais sofrimentos sem criar bloqueios afetivos nos corações puros das crianças. Amar é bom. Ser amado também. Que elas cheguem à maturidade certas disso.

Colaboraram: Aziz Filho e Joceline Gomes

sexta-feira, 1 de junho de 2012

PSICOLOGIA INFANTIL


Quando buscar ajuda de um psicólogo para meu filho ?

Muitos adultos têm dúvidas sobre a necessidade de buscar psicoterapia para seu filho ( psicologia infantil ). Embora as crianças manifestem em geral comportamentos que indicam quando algo não está bem, a grande maioria dos pais reluta em procurar ajuda de um psicólogo infantil. Os pais tendem a pensar que a criança está passando apenas por uma fase, que será superada sozinha. Ou se sentem culpados, receosos de que a terapia com o psicólogo para crianças possa apontar que eles têm alguma responsabilidade pelo sofrimento de seus filhos.
Realmente não é fácil julgar o momento apropriado para levar uma criança à psicoterapia. Muitos adolescentes iniciam um acompanhamento com psicólogo por vontade própria. E algumas crianças podem pedir ocasionalmente. No entanto, é a escola que costuma ser a primeira a notar mudanças de comportamento e solicitar um encaminhamento para psicologia infantil. Os primeiros sinais de problemas incluem a hiperatividade, a dificuldade de concentração, a agressividade, o comportamento inadequado, a dificuldade em brincar com outras crianças, a ansiedade da separação, entre outros. Estes comportamentos podem comprometer o desempenho escolar da criança, sua vida familiar e social.
Certamente, nem todos os conflitos da criança merecem acompanhamento da psicologia infantil , mas se seu filho parece precisar de ajuda, você deve consultar um profissional da psicologia. O psicólogo infantil poderá determinar se as dificuldades apresentadas por ele necessitam ou não de uma intervenção. Em alguns casos, o problema pode ser superado apenas com uma orientação aos pais e professores. Ou com uma breve psicoterapia.
*Solicite ao pediatra ou à professora de seu filho a indicação de um psicólogo infantil

Como é realizada a Psicologia Infantil ?

Durante a psicoterapia, o psicólogo utiliza recursos lúdicos para compreender os sentimentos, angústias e fantasias que a criança expressa através das brincadeiras. Antes do início da psicoterapia, o psicólogo realiza entrevistas iniciais com os pais para reunir informações sobre a história da criança e da família.Após esse contato inicial, o psicólogo tem maiores condições de avaliar o número de sessões semanais necessárias com a criança, bem como a trama familiar que pode estar envolvida nos sintomas expressos por ela. Iniciado o trabalho com a criança, as sessões ocorrem nos dias e horários estipulados, com duração de cinqüenta minutos cada. Além disso, ao longo da terapia infantil, são realizados encontros periódicos com os pais.

Quais os principais motivos da procura pela Terapia Infantil?

São vários os motivos que levam os pais a buscarem atendimento psicológico para seus filhos. Dentre os sintomas e queixas mais comuns, podemos listar:

*
- Dificuldades de aprendizagem
- Hiperatividade
- Déficit de Atenção
- Impulsividade
- Enurese ou ecoprese
- Distúrbios de sono
- Distúrbios alimentares
- Agressividade

- Atrasos no desenvolvimento motor
- Dificuldades de socialização
- Fobias
- Tiques
- Conflitos diante da separação de pais

Quais os beneficios oriundos da Psicologia Infantil?

Por se sentir acolhida e compreendida no contexto terapêutico, a criança passa a comunicar através do lúdico suas dificuldades emocionais, apresentando melhora significativa em casa e na escola.
Além disso, caso a criança permaneça no atendimento com o psicólogo o tempo necessário, terá maiores chances de se tornar um adolescente e, posteriormente, um adulto mais consciente de si e de seus próprios sentimentos e emoções.