domingo, 27 de maio de 2012

A orientação de pais na terapia infantil

por Patrícia Serejo


 
A Orientação de Pais (O.P.) é uma modalidade de atendimento infantil que pode ocorrer de forma exclusiva ou complementar ao atendimento da criança. Ela é caracterizada por sessões nas quais o(s) responsável(is) pela criança participa(m) diretamente e discute(m) com o terapeuta estratégias de modificação do comportamento da criança. A terapia comportamental infantil quase sempre envolveu os pais no processo terapêutico de uma criança. E tal envolvimento não é característica única da análise do comportamento. Outras abordagens também o fazem. Dentre seus motivos principais podemos destacar a grande influência parental, positiva ou negativa, no comportamento das crianças, bem como a grande proporção de tempo que as crianças passam em ambiente familiar, fazendo com que suas dificuldades se expressem com mais freqüência neste ambiente.Para a análise do comportamento, a O.P. está de acordo com suas premissas e, desta forma, se torna muitas vezes indispensável para o sucesso da terapia infantil. Acreditamos que o comportamento infantil, seja ele adequado ou não, é resultado da interação do organismo com o contexto histórico e imediato. Ademais, deve ser reforçado pelas alterações que provoca no ambiente para ser mantido. Partindo destas premissas, a O.P. pode ser uma das maneiras mais efetivas de modificação das contingências familiares que determinaram e mantêm o comportamento da criança.São os pais os que têm mais condições de alterar as contingências controladoras pois dispõem dos reforçadores envolvidos em tal manutenção. Mesmo com a aceitação quase inequívoca da importância da O.P. na terapia infantil, não são todas as famílias que se adaptam a esta modalidade de atendimento. As regras sociais quanto ao desenvolvimento dos comportamentos infantis muitas vezes fazem com que os pais descartem sua influência na manutenção dos mesmos. Estes pais podem ser tornar muito resistentes à O.P. Cabe então ao terapeuta ter argumentos fortes o suficiente, e vínculo de confiança estreito, para convencê-los de que mais efetividade pode ser alcançada no tratamento com sua participação. Da mesma forma, vale ressaltar que os comportamentos, mesmo quando inadequados, fazem parte de um sistema. Assim, um ‘distúrbio’ de comportamento de um dos filhos pode ser extremamente reforçador para o sistema familiar, o que ao mesmo tempo acrescenta importância à O.P., mas torna todo o processo terapêutico mais complexo.Acreditamos que os comportamentos são desenvolvidos de acordo com as oportunidades oferecidas pelo nosso ambiente. Assim, um déficit comportamental infantil que está trazendo sofrimento para a criança e para sua família pode ser considerado como decorrente da falta de habilidade de ensino dos comportamentos adequados pelos pais. Assim, a O.P. pode favorecer a modificação do comportamento do filho pela superação das dificuldades dos pais em ensinar tal comportamento.Uma criança que expressa alguma dificuldade no ambiente familiar está, sob nossa perspectiva, tentando resolver um problema e não criar um. Portanto é indispensável que o terapeuta faça uma avaliação bem extensa do ambiente familiar até que discrimine o que a criança está tentando resolver, de forma rudimentar, devido a limitações de seu repertório comportamental. Muitas vezes a participação ativa dos pais é imprescindível para realizar esta avaliação, uma vez que o repertório verbal da criança ainda é limitado. Este modelo é semelhante à idéia de que o comportamento-problema é um sintoma. Entretanto, não compartilhamos a idéia de que se trata de um problema interior ou de personalidade identificado pelo sintoma. Interpretamos o comportamento da criança como um ‘sintoma’ de uma inter-relação com o seu ambiente que influencia tal comportamento. Desta forma, pode ser apenas um paliativo lidar diretamente com o comportamento-problema sem descobrir suas causas ambientais. E como as causas estão no ambiente, modificá-lo diretamente pode garantir mudanças no comportamento do qual é função. Por fim, a O.P. apresenta uma grande vantagem em relação à generalização das mudanças comportamentais. Ao se trabalhar com os pais e estes com a criança, observa-se mudança terapêutica no ambiente natural, o que é mais fácil de ser mantido e ainda generalizado para novos ambientes. Ocorre também generalização das mudanças apresentadas pelos pais, que tornam a relação com os filhos mais adaptada e produtiva, evitando problemas futuros e, no advento deles, tornando-os mais autônomos para resolvê-los. A análise do comportamento, no entanto, não prega nenhum tipo de atendimento a priori. Não há forma preestabelecida ou unificada de ação dentro da terapia analítico-comportamental infantil. Cabe a nós, terapeutas, buscarmos formação e informação para acrescentar ao nosso repertório profissional para que, a cada novo caso, sejamos capazes de realizar uma avaliação funcional compreensiva e utilizar os melhores instrumentos disponíveis.

Texto baseado em Silvares, E. F. M. "Por que trabalhar com a família quando se promove terapia comportamental de uma criança".

Nenhum comentário: