sexta-feira, 27 de abril de 2012

Programa Superprotegidos - Home & Health

 (DCI)
Parece impossível que no mundo de hoje os pais de família estejam dispostos a permitir que seus filhos vivam uma infância relaxada e muito mais livre do que a que eles próprios ou seus pais tiveram – e não é para menos. Diariamente, os jornais relatam o desaparecimento de crianças, e o aumento da violência e da insegurança em muitos países aumentaram a desconfiança e exigiram medidas de segurança mais rígidas. Por isso, não é estranho que alguns pais tenham se tornado um tanto paranoicos com a intenção de proteger seus filhos.

A nova série SUPERPROTEGIDOS aborda este tema para ajudar os pais excessivamente nervosos a relaxar e a dar mais liberdade a seus filhos. O programa é apresentado pro Lenore Skenazy, mãe de dois filhos e escritora, que se expôs publicamente em 2008 ao permitir que seu filho de nove anos andasse sozinho de metrô em Nova York. Depois do alvoroço causado na mídia, Lenore decidiu orientar pais superprotetores e poupar seus filhos de uma infância limitada.

O programa será exibido todas as sextas, às 21 horas. (Discovery Home & Health)

Em cada episódio de SUPERPROTEGIDOS, Lenore realiza intervenções em famílias cujos filhos são oprimidos pelos chamados "pais-helicóptero"- termo usado para definir os genitores que tendem a rondar constantemente os filhos para vigiar cada um de seus movimentos.

Esta preocupação é normal, mas alguns levam a inquietude ao extremo. De crianças que não podem brincar no quintal de casa sem supervisão a adolescentes impedidos de entrar em um banheiro público sozinhos, a especialista trabalha para decifrar seus temores, alterando sua percepção sobre os mitos relacionados aos perigos existentes na sociedade.

Ao longo de uma semana, Lenore propõe a cada família uma série de desafios, que remontam a um tempo em que a vida era mais simples e o bom senso prevalecia, mas que hoje deixariam alguns pais apavorados. Vários estudos sugerem que as crianças que têm liberdade para explorar o mundo são mais independentes e responsáveis, já que estas experiências servem como preparação para a vida adulta. Com a ajuda de Lenore, estes pais conseguirão afrouxar as rédeas e permitir que seus filhos aproveitem a infância?

SUPERPROTEGIDOS é uma produção de Cineflix (Free Kids) Inc., em parceria com Shaw Media, Canal Vie e TLC International, e produção-executiva de Simon Lloyd. Jon Sechrist é o produtor-executivo para TLC International.

Superprotegido: é o caso do seu filho?

03/04/2012 | 23:59 | Isabel Clemente

Escrever aqui neste espaço sobre maternidade tem me dado a chance de entrar em contato com os mais diversos livros e autores sobre educação infantil. Aprendi muito assim, ou pelo menos acredito ter aprendido, ainda que nem sempre eu me sinta parte do público-alvo. Foi o que aconteceu com o livro Free-range kids (na minha livre tradução,algo como Crianças criadas em liberdade), de Lenore Skenazy, uma escritora americana alvo de polêmica em 2008, nos Estados Unidos, porque deixou o filho, então com 9 anos, andar sozinho no metrô de Nova York. Em meio à cultura da superproteção, Lenore ficou famosa por acenar para o mundo que é possível confiar na segurança de uma criança sozinha.
Para você ver como é a vida: ao atender o pedido de seu menino crescidinho, Lenore foi parar em programas de televisão, virou alvo de debates sobre criação de filhos e até rotulada como a “pior mãe do mundo”. Pra quê? Transformada em celebridade, lançou livro e, do livro, nasceu o programa Superprotegidos, do Discovery Home & Health, que estreiou em março, no Brasil. No programa, ela é uma espécie de supernanny da família toda, propondo rotinas novas que lançam, pais e filhos, no admirável mundo da porta pra fora.
Mas isso não serve para eu ou você, pai e mãe de um bebê sem noção que precisa da nossa proteção e não p0de sair por aí sozinho, serve? Serve sim. Nós, pais de todos os lugares do mundo, temos os nossos medos. É de pequeno que a gente aprende a deixar nossos filhos explorarem o parquinho cheio de riscos, ralos misteriosos, areia suja e escorregadores tenebrosos. Depois a gente vai evoluindo na escala dos riscos. Deixa a criança comer pipoca com aquelas “partes duras” (por que um alimento tão perigoso foi cair no gosto deles, por quê?), permite que o menino comece na aula de natação mesmo não sabendo nadar (risos, risos!) e pegar elevador sozinho (vou surtar). Até o dia em que ele irá ao cinema com a mãe do coleguinha da escola (o máximo do despreendimento) e cismará que vai querer surfar (mas onda não tem corrimão, meu filho). Na vida das pessoas normais, a coisa costuma evoluir, apesar dos nossos medos inconfessáveis e do ridículo que mãe costuma aprontar para cima dos filhos. Como de perto ninguém é normal, as lições do livro servem para todo mundo. Esse manual de como criar filhos sadios e confiantes sem enlouquecer de preocupação mostra como a cultura do medo pode nos tornar ridículos e, o pior dos mundos, maus pais.
Um dos episódios ao qual assisti, na TV, mostrava uma família com cinco filhos, sendo a mais velha uma jovem adulta, em quem os pais jamais tinham confiado a ponto de deixá-la tomar conta dos menores. O casal, aparentemente, não tinha vida própria nem tempo para si. Um caso patológico. No programa, eles passaram uma noite fora, superando as barreiras internas (e externas) que os impediam, porque nem os filhos admitiam ficar longe dos pais. A lição ali parece ter sido assimilada, ainda que parcialmente, porque não se muda a educação de uma família inteira com uma breve intervenção de uma semana, mas não deixa de ser uma sementinha e que faz a gente se perguntar “como não exagerar” e “como fazer direito” essa coisa de criar.
Não sei se eu ficaria muito confortável deixando minha filha mais velha sozinha no metrô do Rio de Janeiro. Me dá um desconto, vai, ela só tem seis anos, mas eu vou chegar lá também. O ponto aqui não é deixar ou não o menino ir de bicicleta para a escola – aventura que Lenore adora citar, mas já imaginou isso, no trânsito de São Paulo?. O que o livro traz de legal são mandamentos para atacar de frente o medo, aquele que brota dentro da gente do nada, e que em alguns casos embota o pensamento e descamba para o exagero. E um dos mandamentos é “desligue o noticiário”. Quê? Para a autora, é o antídoto para evitar que você fique tão impressionado com notícias ruins. Ela tem lá sua razão. Conheço gente capaz de surtar com a notícia de que bactérias raras de outro planeta mataram uma criança desnutrida num vilarejo isolado da Nova Zelândia, achando que o filho poderá ser vítima do mesmo mal. Você concorda? Eu não gosto dessa história de fugir de notícia não (por que será?), mas acredito muito na leitura seletiva e no distanciamento crítico. ; )
A cultura do medo transforma uma improvável estatística num risco real e paralisante. A grande lição desse guia para pais com muito medo da vida, ainda que alguns mandamentos não sejam assim autoaplicáveis, é não privar os filhos da liberdade que eles precisam para se tornarem adultos bem resolvidos, confiantes e felizes.
Sou mãe, moro numa cidade grande e sei o quanto será difícil tomar certas decisões. Com que idade minha filha poderá ir sozinha para a escola? A gente conversa sobre isso em casa e eu não tenho essa resposta. Ainda. Mas uma hora ela vai. Eu fui com dez anos. Tudo bem que o ano era…vamos pular essa parte.
“Nossas crianças são mais competentes do que imaginamos”, diz Skenazy. Concordo com ela. A gente se torna safo com experiência, e criança não-experimentada é a que não sai da barra da nossa saia. Crianças desenvolvem a autonomia à medida que lhe concedemos liberdade, com bom senso, na hora certa blá blá blá. E o tempero disso tudo é coragem, aquela inata, que já vem no pacotinho da personalidade, e outra boa dose da que lhe ensinaremos com pequenos exercícios na nossa rotina.
Era domingo e brincávamos no parquinho. Enquanto fazia bolo de areia com a filha pequena, ouvi a mais velha me gritar de longe. “Mamanhêeeeee”. Lá em cima, perto da copa da árvore, estava Letícia, em pé na última barra do trepa-trepa, com os braços para cima, pronta para levantar vôo, sob o olhar orgulhoso do pai, igualmente equilibrando-se uma barra abaixo com os braços abertos, caso ela resolvesse se desequilibrar. No diminuto espaço de uma batida de coração em suspenso, eu usei toda minha força mental para cochichar naquele tom alto que só o marido ouve no meio da multidão e à distância: se-gu-ra-e-la-pe-la-mor-de-deus. Um sorrisinho depois, a gracinha acabou, e meu coração voltou a bater no ritmo normal.
É o tal negócio: a gente até tenta (super)proteger, mas as crianças dão um jeito de escapar. Ainda bem.
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Isabel Clemente é editora de ÉPOCA no Rio de Janeiro

sábado, 21 de abril de 2012

FILME JUNO


Gravidez na adolescência

Juno é esta adolescente que busca saídas e alternativas para velhas questões. O filme fala sobre a gravidez indesejada de uma adolescente, fato tão comum na atualidade. O filme aborda as crises da adolescência, a imaturidade diante de situações complexas, os papéis parentais, o conflito da gravidez indesejada em relação aos projetos individuais próprios da idade, e a falta de prontidão psíquica do adolescente para enfrentar tais situações. É um filme sutil e delicado, faz uma crítica à superficialidade das relações - sem julgamento moral - quebrando os tabus do politicamente correto. A personagem viverá durante sua gravidez, um doloroso percurso entre a onipotência que rege a lógica adolescente e a impotência diante de inúmeras frustrações, antes de poder eleger com mais consciência crítica, um caminho possível. Mas o encanto do filme talvez resida no fato de apresentar de forma inusitada e delicada, não o rebatido confronto ou cisão entre o mundo adulto e o adolescente, mas uma conversa interessante entre os dois. O pai e a madrasta nem se apresentam como detentores das soluções sábias, nem se ausentam de sua responsabilidade e ainda conseguem, de lambuja, manter certa hierarquia (necessária) relativa à diferença de gerações. Juno, a garota grávida de apenas 16 anos, transforma-se. Descobre neste período o verdadeiro sentido:
- da AMIZADE: pois viu quem estava ao seu lado na escola, sem preconceitos quanto à gravidez; - da FAMÍLIA: pois percebeu que foram eles a presença essencial no processo; - e, principalmente, do AMOR: a relação que gerara o filho aconteceu por aventura, os dois jovens se redescobrem e assim se apaixonam de verdade. A sexualidade muda de valor. Ela vivia de aventuras como qualquer garota de sua idade. E pagou um preço! Foi honesta ao querer seguir em frente com a gestação e, por tantas questões ao seu redor, optou por entregar o filho a adoção. A sexualidade na relação muda de foco. É explícito nesta obra que as coisas feitas na hora errada podem ter drásticas conseqüências.O filme é ideal para trabalhar com grupos de adolescentes. Mesmo com os palavrões e algumas insinuações, ninguém precisará fechar os olhos. Os temas para reflexão são: aborto, gravidez na adolescência e sexo antes do casamento.

Fonte: http://www.psicologiaecinema.com/2010/07/juno.html


Recomendo!

Adolescência: um manual para os pais

Pela primeira vez, a Sociedade Brasileira de Pediatria lança um guia sobre adolescência voltado para os pais. Livro traz valiosas instruções sobre temas controversos como sexualidade e drogas, e dicas práticas de saúde

Por
Natalia Cuminale - Revista Veja - 08 de outubro de 2011
Sexualidade e abuso de drogas são temas tratados no novo livro para pais de adolescentes lançado pela Sociedade Brasileira de Pediatria Sexualidade e abuso de drogas são temas tratados no novo livro para pais de adolescentes lançado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (ThinkStock)
Pais de primeira viagem têm à sua disposição dezenas de guias para ajudá-los nas decisões que vão repercutir diretamente na saúde e no desenvolvimento de seus bebês – desde qual a hora certa de mamar até quando tirar as fraldas. O que fazer, no entanto, quando eles entram na difícil fase da adolescência? Na série Filhos – Adolescentes de 10 a 20 anos de idade (Editora Manole, 126 pág, 69 reais) da Sociedade Brasileira de Pediatria, é possível encontrar orientações respaldadas por nove especialistas, entre pediatras, dentistas e psiquiatras, para temas como sexualidade e drogas, além de dicas práticas de saúde: o que fazer durante a fase do estirão, quais vacinas seu filho deve tomar e como evitar o sobrepeso e a obesidade, cada vez mais frequentes nessa faixa etária.

"É um livro importante porque a adolescência abrange a fase de transição entre a infância e a maturidade. É um período de mudanças corporais fundamentais, de conflito e insegurança. Por isso, é preciso que os pais estejam bem-informados para ajudar seus filhos", diz Fabio Ancona Lopez, organizador da série Filhos, que já lançou dois volumes — um dedicado aos bebês e o segundo às crianças entre dois e dez anos. O livro explica, por exemplo, que os cuidados de saúde não param na adolescência: jovens devem ser levados trimestralmente ao pediatra durante o estirão do crescimento, que dura cerca de dois anos. No pico de crescimento durante a puberdade, um adolescente pode crescer de 10 até 14 centímetros. Com isso cresce a necessidade de nutrientes e de outros cuidados com o corpo — incluindo a vacinação.

Biblioteca

Filhos - Adolescentes de 10 a 20 anos de idade
capa do livro Filhos, da Sociedade Brasileira de Pediatria
Com 126 páginas, o livro tem 13 capítulos, com linguagem simples e organização didática. Ao ler, os pais encontram boxes com texto direto e “especialmente elaborado como se você estivesse no consultório tendo uma conversa com o pediatra”, explica a publicação. Além disso, possui ícones para a visualização rápida com chamadas de “atenção”, “o que você deve fazer/saber”, “o que observar” e “quando consultar o pediatra”.
Ao mesmo tempo em que ocorre o aumento de estatura, há também o desenvolvimento psicológico, marcado por ritos de passagem. Nessa fase, a opinião dos amigos vale mais que a dos pais; em um momento a vida é perfeita, no outro, uma droga; o amor e o ódio pelos pais também fazem parte da rotina dos adolescentes que, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, ocorre em jovens com idades entre 12 e 18 anos. "Os pais desorientados costumam achar que há algo errado ou patológico no comportamento de seus filhos. O que geralmente não acontece", diz Paulo Cesar Pinho Ribeiro, um dos autores do livro, pediatra especialista em medicina da adolescência.
O convívio em grupo se torna mais comum e assim eles se sentem mais seguros para agir. É o momento da busca pela independência e liberdade para a vida adulta. "É um período extremamente crítico, em que os jovens podem entrar em situações de risco se não forem bem orientados", diz Lopez. Nessa hora é que comportamentos como o uso de álcool, abuso de drogas ilícitas ou dirigir em alta velocidade ocorrem, segundo o livro. "Uma característica do jovem é a onipotência. Eles se acham acima de qualquer perigo", afirma Lopez.

Sexualidade — A publicação ainda direciona um capítulo para tratar exclusivamente do tema sexualidade, com os métodos contraceptivos existentes, explica quando visitar o ginecologista pela primeira vez, como tratar do tema sexo e ainda desmistifica a masturbação. "Hoje, os jovens têm iniciado a atividade sexual em média, aos 15 anos de idade. É importante conversar sobre isso com eles", explica Ribeiro. O livro também afirma que o pediatra deve esclarecer todas as dúvidas dos adolescentes, garantindo a privacidade e a confidencialidade deles. Até mesmo o interesse pelo mesmo sexo é tratado pelo guia, que diz que nem toda relação homossexual na adolescência pressupõe homossexualidade na idade adulta. "Em caso de adolescentes homossexuais, tanto os pais como os profissionais de saúde devem adotar uma postura de acolhimento, respeito e atenção, e isenta de discriminação", afirma a publicação.
Entre os temas abordados, estão as faixas etárias ideais para a prática de atividades físicas, como deve ser a nutrição do adolescente que pratica esportes e quais riscos estão envolvidos na atividade incorreta. Por causa do desejo dos jovens de terem um corpo atlético em pouco tempo, o uso de anabolizantes recebe atenção especial nesse capítulo esportivo. Segundo os autores, depois das chamadas drogas ilícitas (maconha, crack e outras) e das lícitas (álcool e cigarro), os esteroides passam a preocupar os profissionais de saúde. Eles podem causar variação de humor, agressividade, tremores, aumento de peso, alterações no exame de sangue entre outros inúmeros problemas.
Nesse período, os pais vão ouvir reclamações sobre o aparecimento de cravos, verão seus filhos emburrados por não poderem ir a uma festa por causa de uma prova da escola, darão dicas nos momentos de altos e baixos vividos por seus ex-bebês. Mais do que isso, terão que conviver com o fato de que seus filhos estão crescendo.

"Pais tendem a achar que há algo errado com seus filhos, mas não há", diz autor de guia sobre adolescentes

Pediatra acredita que a aproximação dos jovens e seus pais é essencial para um crescimento saudável e sem desvios para comportamentos de risco


Natalia Cuminale
Médico diz que diálogo é o mais importante para uma relação saudável entre pais e filhos Médico diz que diálogo é o mais importante para uma relação saudável entre pais e filhos (ThinkStock)
Paulo César Pinho Ribeiro, um dos autores do livro Filhos – Adolescentes de 10 a 20 anos de idade, da Sociedade Brasileira de Pediatria, trabalha há 22 anos como especialista em medicina da adolescência. Em seu consultório, escuta preocupações bastante variadas dos pais, que vão desde o consumo de substâncias ilícitas até o medo relacionado à sexualidade dos filhos. Em entrevista ao site de VEJA, diz que a aproximação dos jovens e seus pais é essencial para um crescimento saudável e sem desvios para comportamentos de risco, e que muitas vezes os pais inquietam-se sem razão.
Qual a importância do livro? Este é o primeiro que abrange questões de saúde e comportamento com linguagem simples e lançado pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Há muita coisa que ocorre no período da adolescência que faz com que os pais achem que há algo errado ou patológico. Mas que na verdade, do ponto de vista médico, não há. Eles acham, por exemplo, estranho que seus filhos valorizem demais a turma, que tenham mudanças bruscas de humor, que questionem alguns aspectos da vida, que detestem — sem motivo aparente — a família. Tudo isso é comum. Há também muitas dúvidas em relação à sexualidade. Por isso, é importante passar essas informações aos pais através de um livro.
Por que é importante ir ao médico nessa idade? Somente 42% dos adolescentes são vacinados. É preciso ampliar este número e não podemos deixar essa questão nas mãos dos próprios jovens. Da mesma forma que os pais têm cuidado com os filhos pequenos, eles precisam ter com os adolescentes. O problema é que eles nem vão ao médico. Nessa idade, quase não têm mais febres, cólicas, etc. Somente 30% das queixas são relacionadas à saúde física, o restante de 70% são queixas psicossociais, que precisam ser discutidas e orientadas pelo médico.
A pediatria está muito ligada à prevenção. Como o pediatra ajuda os jovens nesse sentido? Em vários quesitos, desde orientações comportamentais, evitando comportamentos de risco, como também na prevenção da obesidade, por exemplo. Uma pesquisa feita com 29.000 crianças entre 9 e 16 anos mostrou que quase 50% deles tinha colesterol alto. Se fosse feito um trabalho preventivo, poderia ser diferente. É preciso explicar qual alimento vai deixar o colesterol ruim e qual a importância de deixar o sedentarismo. Tudo isso é muito importante.

Saiba mais

SÍNDROME DA ADOLESCÊNCIA NORMAL
Os pediatras criaram o termo para definir certas atitudes "normais" dessa faixa etária, como a contestação constante aos pais, atos arriscados e pequenas transgressões, que precisam ser acompanhadas com mais atenção. O nome evita que comportamentos até certo ponto comuns sejam tratados com excesso, mas também impede que seja adotada uma postura liberal, de que tudo não passa apenas uma "fase", indicando que é necessário uma visita ao médico como forma de diferenciar um comportamento normal de um patológico.
O livro cita a síndrome da adolescência normal (veja quadro ao lado). Como os pais podem identificar se esse comportamento ultrapassa o limite e se torna preocupante? Se um jovem chegar em casa e quiser ficar sozinho um pouco, é normal. É uma fase em que eles precisam viver o momento de intimidade. Agora, uma pessoa que faz isso, mas abandona todos os hábitos de rotina, pode ter problemas. Se o desejo de ficar sozinho reflete no cuidado que o adolescente tem consigo mesmo ou no desempenhos escolar, é preciso se preocupar. A agressividade também é comum nessa fase. É até importante para crescer e vencer as dificuldades. Agora, uma pessoa que é sempre agressiva, bate nos irmãos, ou é cruel com os animais, pode ter distúrbios de comportamento.
Como os pais devem se aproximar dos filhos? Antes de ser melhor amigo, o pai tem que ser pai. É preciso exercer a autoridade primeiro e depois ser melhor amigo. Ele deve dizer 'não' quando for necessário e 'sim' quando for possível. Para temas como a sexualidade, os filhos costumam ser resistentes em conversar sobre o assunto com seus pais. Por causa disso, muitas vezes os pais deixam de levá-los ao médico, que, em alguns casos, seria o melhor profissional para falar disso.
O livro também trata da homossexualidade. Essa é uma preocupação dos pais? É uma grande preocupação. No livro, deixamos claro que não é possível caracterizar alguém como homossexual por conta da escolha de roupas ou acessórios. A forma como o jovem se veste às vezes está muito mais ligada a tribos. Agora, se houver um interesse por pessoa do mesmo sexo, ninguém poderá mudar isso. É importante que haja um acompanhamento do médico e às vezes do psicólogo para ajudar nos conflitos que podem surgir a partir disso. E para evitar que a criança sofra com rótulos.
Quais mitos são abordados no livro? Falamos sobre as substâncias esteroides, que dizem melhorar o desempenho do atleta. Nós não aconselhamos o uso, que pode trazer diversas conseqüências. Os pais também tem muitas dúvidas sobre a gravidez, a partir de que idade ela pode ocorrer. Também acreditam em mitos sobre a relação da masturbação e o aparecimento de espinhas, por exemplo.
Em resumo, que dicas o senhor daria para os pais passarem tranquilamente por essa fase? Um grande conselho é investir no diálogo. É preciso levar em conta tudo que o seu filho está dizendo. Muitos pais com filhos nesse período têm dificuldades em entender e passar por esse processo. E isso ocorre porque muitas vezes não são bem orientados.

Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/saude/pais-tendem-a-achar-que-ha-algo-errado-com-seus-filhos-mas-nao-ha-diz-autor-de-guia-sobre-adolescentes

sexta-feira, 20 de abril de 2012

ATENDIMENTO PSICOLÓGICO

Quem estiver precisando de acompanhamento psicológico (crianças, adolescentes e adultos) a Faculdade Estacio de Sá de SJ abre suas portas gratuitamente, para o oferecimento de consultas. Serão feitas triagens e todos estarão cadastrados na fila de espera. Este serviço será realizado diariamente no período das 12 as 21H. O telefone de contato é 33818050. Por favor, repassem para aqueles que precisam!

Caro leitor do Blog

Como estou na correria da clínica e o pouco tempo que me resta passo com a família, postei quatro matérias (psiquiatria e psicologia) interessantes para acadêmicos, sobre assuntos relacionados a psicopatologias na infância e adolescência. O espaço (Blog) também tem esta função, armazenar conteúdos das mais variadas vertentes, facilitando o direcionamento por temas de seu interesse. Na semana que vem escrevo mais sobre minhas vivências. Um pouco de teoria faz bem! bjs

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Efeitos de Vivências Traumáticas em Crianças

Como as vivências podem influenciar o desenvolvimento na infância e na adolescência
     

efeito dos traumas



Há necessidade crescente de estudos, pesquisas, conduta e intervenção psicológica e psiquiátrica para as crianças e adolescentes expostos a eventos traumáticos. Alguns estudos revelam que crianças e adolescentes têm alto risco de desenvolver diferentes problemas comportamentais, psicológicos e neurobiológicos como conseqüência das vivências traumáticas ou experiências de vida estressantes. Outros trabalhos referem que, em algumas pessoas, as experiências traumáticas podem não produzir efeitos psiquiátricos desastrosos e mesmo até alguns efeitos positivos.
Cada vez mais se analisam as variedades de eventos traumáticos precoces ou em tenra idade e sua verdadeira importância no desenvolvimento de quadros conhecidos, tais como o Transtorno de Estresse Pós-Traumático, os Transtornos de Ansiedade, Transtornos Depressivos, Transtornos Comportamentais e outros, ou mesmo nos sintomas de luto traumático das crianças. Apesar do empenho dos pesquisadores, ainda faltam estudos bem desenhados e cientificamente expressivos para análise dos sintomas e quadro clínico de transtornos emocionais conseqüentes ao estresse experimentado por crianças e adolescentes em tenra idade.
Há interesse cada vez maior sobre o impacto de eventos traumáticos em crianças e adolescentes, até por conta dos recentes desastres naturais (tufões, furacões, terremotos, tsunamis) e dos “cataclismos” criados pelo homem, através dos atos de violência (guerras, violência urbana e doméstica, etc).
A pergunta que se faz é se existiriam, e quais seriam, os fatores protetores individuais contra esses traumas, de tal forma que algumas pessoas parecem menos vulneráveis que outras em relação às vivencias estressantes.
O que se observa na clínica diária, é que algumas crianças e adolescentes, vítimas desses traumas, se adaptam e se recuperam de maneira surpreendente, apesar da experiência sofrível pela qual passaram. Constata-se através da revisão de pesquisas sobre o tema, existir uma grande variedade de respostas emocionais aos eventos traumáticos que acometem crianças e adolescentes e, assim, fica cada vez mais difícil atribuir responsabilidade exclusiva ás vivências emocionais precoces.
Uma ocasião - dando um exemplo irônico sobre a importância das fragilidades pessoais em relação àquilo que vida coloca diante de nós - lembro um paciente criado em orfanato que vivia com sintomas extremamente histéricos, sofrendo e fazendo sofrer quem dele se acercava afetivamente. A tudo ele atribuía o fato de ter vivido em orfanato. Aliás uma excelente instituição, que acabava por formar seus internos em excelentes profissionais técnicos.
Um dia, diante de tantas afirmativas suas de que “era assim e era assado” por ter sido criado em orfanato e como se aproximava a data da reunião trianual de sua turma de instituição, disse-lhe que levasse vários cartões de visitas meus para distribuir entre seus pares; se ele estava assim, problemático por ter vivido em orfanato, então, certamente, todos seus colegas de classe deveriam também estar passando pelos mesmos problemas e precisando de tratamento.
Discute-se a existência de uma personalidade mais imune às vivências traumáticas ou, por outro lado, se o apoio social e familiar seria o fator decisivo para essas crianças a se recuperarem, impedindo assim uma conseqüência mais patológica do trauma. Apesar das pesquisas que investigam alterações hormonais causadas pelo estresse em tenra idade e as conseqüências dessas alterações no desenvolvimento emocional futuro, o que se vê na clínica e na vida em geral, é que as conseqüências psicológicas das vivências parecem depender muito mais da personalidade sobre a qual agem essas vivências do que das próprias vivências em si.
Isso corresponderia a dizer que as reações dependem muito mais do agente “agredido” do que do agente “agressor”. Entre as variáveis potenciais que determinam as conseqüências dos traumas vividos por crianças e adolescentes em longo e médio prazo, devemos considerar fortemente as eventuais psicopatologias e predisposições preexistentes nessas pessoas.
Além das variáveis individuais de vulnerabilidades ao trauma, as conseqüências de vivências traumáticas sobre o psiquismo das crianças e adolescentes podem ter também um componente cultural e mesmo étnico. Como exemplo, referimos duas pesquisas. Uma delas, envolvendo uma mostra de 349 adolescentes de nove escolas dos EUA, verificou que 76% delas relataram terem sido testemunhas ou terem sido vítimas de pelo menos um evento violento nos últimos três meses. Dessas exposições à violência o que mais se associou foi o Transtorno de Estresse Pós-Traumático e a Depressão (Ozer, 2004).
A outra, de Seedat (2004), verificou que mais de 80% de uma mostra de 2.041 adolescentes quenianos relataou exposição à violência, como vítimas ou testemunhas, mas somente 5% dessa mostra desenvolveu sintomas completos de Transtorno de Estresse Pós-Traumático, e 8% desenvolveram sintomas de Transtorno de Estresse Pós-Traumático parcial.
Talvez a diferença entre uma criança americana e uma queniana quanto as dificuldades para a vida cotidiana imunize as mais sofridas contra os efeitos de certos eventos, ou seja, maiores dificuldades de vida poderiam fazer com que alguns eventos fossem traumáticos para uma criança americana e nem tão traumático para uma queniana. Se isso fosse verdade, então as dificuldades pragmáticas da vida, as vivências mais penosas e as frustrações, até certo ponto, contribuiriam para melhorar a adaptação futura da pessoa.
Em um estudo de109 adolescentes que sofreram abuso sexual, incluindo toques sexuais, beijos, carícias nas mamas ou nos genitais, tentativas de penetração e penetração por alguém da família ou de fora dela, 50% tiveram diagnóstico de Transtorno de Estresse Pós-Traumático, aproximadamente 33% foram assintomáticas e o restante teve outros problemas não significativos do ponto de vista sintomático (Bal, 2004). Algumas pesquisas importantes mostram que, felizmente, e ao contrário do que pode-se pensar, não é a expressiva e maciça maioria das crianças submetidas a traumas que desenvolve transtornos emocionais significativos.
Também em adultos, parece que a expressiva maioria das pessoas expostas à vivências traumáticas não desenvolve o Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Vieira (2003) refere estudos epidemiológicos indicando que o Transtorno de Estresse Pós-Traumático afeta aproximadamente 15% a 24% das pessoas expostas a eventos traumáticos.
Isso nos leva a crer existirem outros fatores e outras variáveis influindo nas respostas emocionais aos traumas, como por exemplo, características da personalidade, como já dissemos, sensibilidade pessoal afetiva e emocional, estrutura de apoio familiar e social e, obviamente, a própria natureza do trauma.
O perfil afetivo da pessoa que reage é fundamental para a valorização da experiência vivida, a ponto dos eventos serem mais traumáticos para uns que para outros. Tem ainda o “fator depressão”, ou seja, o fato das pessoas mais depressivas terem muito mais dificuldade adaptativa diante dos estressores da vida. Na prática, a tonalidade afetiva responsável pela “valorização” do trauma seria representada pela pessoa que lamenta chorosamente as experiências vividas, dizendo sofrer “até hoje” as conseqüências “malditas” de tudo que aconteceu de terrível, e por outra pessoa que, vivendo experiências igualmente traumáticas, regozija-se por “tudo isso já ter passado” e sente-se muito bem por "ter superado essas vivências".
Juntando isso ao fato do Transtorno de Estresse Pós-Traumático ser acompanhado de taxas elevadíssimas de Depressão (comorbidade), surge a clássica pergunta; a Depressão e o Transtorno de Estresse Pós-Traumático seriam síndromes distintas ou, ao contrário, seriam aspectos diferentes de um mesmo fenômeno emocional. Se assim fosse, então o Transtorno de Estresse Pós-Traumático seria apenas um outro tipo de manifestação clínica da depressão.
Para quem se interessa pelo tema, colocando-se como termos a serem pesquisados "transtorno do estresse pós-traumático", "trauma psicológico" e "crianças e adolescentes" em dois bancos de dados relevantes da literatura científica para a medicina (MedLine, PsycInfo), encontrará no mínimo 445 artigos relevantes.
Ali vê-se que, entre uma ampla variedade de eventos traumáticos expressivos, como por exemplo a violência na comunidade, desastres naturais e aqueles criados pelo homem, abuso e maus-tratos a crianças, acidentes em estradas, exposição a doenças clínicas e lide com a morte, é muito grande o número dos casos de violência na comunidade - violência urbana - que acaba resultando em sintomas de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (Julio Fernando Peres, Antonia Nasello).
Efeitos Orgânicos do Estresse
Para entender os efeitos orgânicos do estresse, lembramos que a base de liberação hormonal está situada no cérebro (hipófise), portanto, as questões cerebrais influem diretamente no funcionamento endócrino de todo organismo. A influência hormonal do estresse atinge mesmo as glândulas situadas fora do cérebro através de um eixo que liga o Hipotálamo (núcleos da base), a Hipófise e as Supra-renais.
A secreção da maioria dos hormônios pela hipófise obedece ao estímulo de pré-hormônios elaborados nos núcleos cerebrais paraventriculares, e estes núcleos são controlados por, pelo menos, dois tipos de estímulos: o estresse e o relógio biológico, responsável por todo ritmo do organismo (sono-vigília, ciclos hormonais das mulheres).
Assim, uma das áreas mais pesquisadas quando se trata dos efeitos físicos das emoções, é no chamado eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal, ou seja, um sistema que começa no cérebro, na região do hipotálamo (fortemente influenciado pelas emoções), segue pela gandula hipófise (também localizada no assoalho do hipotálamo) e suas repercussões sobre a glândula supra-renal, situadas, como o nome diz, sobre os rins e outras manifestações alérgicas com vulnerabilidade à infecções variadas.
Efeitos Psicopatológicos dos Traumas
O maior volume de pesquisas sobre o impacto psicológico dos traumas em crianças e adolescentes, entretanto, se concentra em abusos, maus tratos e violência doméstica em geral. Em graus muito variáveis de adaptação e superação, crianças que sofreram abuso e maus-tratos correm maior risco de desenvolverem os seguintes quadros, de acordo com os seguintes trabalhos:
Transtornos
Autor
Transtorno de Estresse Pós-Traumático
Bal
Comportamentos Autoprejudiciais
Yates
Alexitimia
Honkalampi
Transtornos do Humor
Duran
Transtorno por abuso de drogas
Singer
Problemas de Comportamento Sexual
Letourneau
Dissociação Psicológica
Collin-Vezina
Somatizações
Maaranen
Alguns grupos de populações pesquisados, como por exemplo, os adolescentes de rua (Stewart, 2004) e os infratores juvenis (Abram - 2004, Brosky - 2004), parecem possuir antecedentes particularmente elevados de experiências traumáticas precoces, tais como abuso físico ou sexual e crime violento. Eles ainda mostraram taxas mais altas de Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Também foi sugerida uma ligação entre exposição a experiências traumáticas precoces, transtornos psicológicos e comportamento anti-social (Dixon, 2004).
Devemos ter muito cuidado com essas tendências em se atribuir ao sociopata uma causalidade social. Mas não existem, entretanto, pesquisas que investiguem a ocorrência de exposição à vivências traumáticas em pessoas adultas e completamente normais, tanto do ponto de vista psicológico, quanto sócio-ocupacional. E nós sabemos que existem muitos casos assim.


Pesquisas assim procuram verificar a força das características constitucionais da pessoa em relação à qualidade e quantidade da resposta emocional. Explica-se ainda, que as experiências traumáticas precoces também passarão a fazer parte integrante e importante da personalidade em desenvolvimento, portanto, contribuirão significativamente para a constituição da pessoa. Isso quer dizer que o termo “constitucional” não se refere exclusivamente ao que é genético, mas à interação entre o potencial genético e a influência ambiental precoce, desde que o fator em consideração seja definitivo.


criança estressada2
Na página de PsiqWeb sobre personalidade, para entender bem essa questão da constituição, nosso conceito é o seguinte: “Personalidade é a organização dinâmica dos traços no interior do eu, formados a partir dos genes particulares que herdamos, das existências singulares que suportamos e das percepções individuais que temos do mundo, capazes de nos tornar únicos em nossa maneira de ser e de desempenhar nosso seu papel social”. Quando falamos, então, em elementos constitucionais da personalidade, estamos falando das características dessa personalidade que se formaram a partir dos genes herdados e das experiências particulares que vividas.
Ao lado de alguns trabalhos sugerindo que os acidentes em estradas podem ter conseqüências psicológicas e comportamentais danosas para as crianças (Stallard, 2004), outras pesquisas sugerem que algumas crianças também expostas a acidentes de estrada podem experimentar alguns efeitos positivos, denominados “crescimento pós-traumático”, relacionado à melhor percepção de si mesmas, à melhora nas relações interpessoais e mudanças positivas das prioridades da vida (Salter, 2004). Na realidade, recentemente tem-se pesquisado muito esse fenômeno chamado crescimento pós-traumático (Posttraumatic Growth – PTG).
São casos onde, a despeito do sofrimento causado pela experiência traumática, ou mesmo apesar do desenvolvimento de Transtorno de Estresse Pós-Traumático, as pessoas referem ter ficado emocionalmente mais fortes, ou terem amadurecido em áreas como relacionamento interpessoal, escala de valores, definição das prioridades de vida, etc. A ocorrência de sentimentos e emoções positivas, bem como de um desenvolvimento desejável da personalidade, foi observada em pessoas que sobreviveram a fortíssimos estressores vivenciais, tais como acidentes, cataclismos, câncer, etc (Jaarsma, 2006 – Bellizzi, 2006 – Morris, 2005 – Barakat, 2005 – Thornton, 2005).
Enfatizamos ainda, que diante de vivências consideradas traumáticas há uma tendência científica em acreditar que as respostas emocionais dependem muito mais do sujeito que vivencia do que da experiência vivida, e que nem todas experiências traumáticas resultam, obrigatoriamente, em um transtorno psiquiátrico ou alteração patológica futura de conduta.
Conclusão
As pesquisas sobre efeitos das vivências traumáticas em crianças e adolescentes, assim como os reflexos dessas experiências na vida adulta são difíceis e escassas (pelo menos são escassas aquelas pesquisas com metodologia científica adequada).

Em crianças e adolescentes podemos encontrar conseqüências emocionais do tipo Transtorno de Estresse Pós-Traumático, Depressão e quadros Fóbico-Ansiosos. Em adolescentes, além desses transtornos emocionais observamos importantes alterações comportamentais, tais como isolamento social, rebendia, constrangimento social e ideação suicida.

Em adultos com passado de abuso sexual (geralmente doméstico) ficam alterações da sexualidade, quadros ansiosos (não raramente o TOC) e depressivos. Entretanto, deve ser relevante o fato de que nem todas as crianças e adolescentes submetidos a experiências traumáticas desenvolvem conseqüências patológicas. Maior ênfase deve ser dado às variáveis pessoais e culturais que influem nas respostas às experiências traumáticas. As variáveis pessoais dizem respeito à constituição da própria personalidade e a ocorrência de transtornos emocionais prévios e/ou predisposições a eles.

Também tem-se pesquisado bastante em relação às alterações orgânicas (notadamente hormonais) ocasionadas pelas vivências traumáticas e estresse.
Além dessas eventuais alterações endócrinas, também tem-se relacionado às experiências traumáticas e ao estresse alterações funcionais e/ou anatômicas do Sistema Nervoso Central.

A idéia de atribuir à pessoa uma importância maior naquilo que as vivências poderiam causar nos faz refletir bastante sobre os fatores ambientais supostamente capazes de justificar transtornos emocionais e de conduta em crianças, adolescentes e adultos, como é o caso das experiências traumáticas. É evidente que a história vivencial tenha a mais relevante importância na essência da pessoa aqui-e-agora, entretanto, não é apenas isso que deve ser buscado entre os fatores relacionados aos problemas psíquicos atuais.

Assim, não se pode atribuir às eventuais experiências traumáticas sofridas precocemente a justificativa absoluta para a conduta dos sociopatas, por exemplo. Nem tampouco que as crianças hiperativas o são por carência afetiva, ou coisa assim. A busca de causas vivenciais relacionadas ao autismo infantil também tem sido completamente estéril. Tudo isso parece muito mais atrelado ao DNA do que ao destino.
É claro que existem experiências fortemente traumáticas e capazes de mobilizar grande número de pessoas, como é o caso de catástrofes naturais (tsunamis, terremotos...) e situações sofríveis produzidas pelo próprio ser humano, como as guerras, terrorismo, violência urbana de grandes proporções. Essas experiências, sem dúvida, podem produzir seqüelas emocionais significativas em grande número de crianças, adolescentes e adultos. Mesmo assim, essas conseqüências não aparecerão em 100% das pessoas.
Experiências traumáticas particularmente vividas, como perdas pessoais, separações conjugais, e coisas assim, deverão ser mais bem pesquisados, uma vez que as variáveis são muitas, assim como são muitas as maneiras das pessoas reagirem a elas. Inclusive, parece que em determinadas circunstâncias as crianças reagem melhor que os adultos.
Também não se tem certeza, fisiologicamente, se alguns sintomas emocionais de crianças e adolescentes que surgem em resposta ao estresse atual poderiam ser considerados reações “normais” a eventos cotidianos aos quais qualquer pessoa estaria sujeita na vida moderna. Mesmo assim, o artigo se justifica pelas crianças e adolescentes que exibem níveis importantes de comprometimento emocional depois de submetidos a vivências traumáticas.

Para referir:
Ballone GJ, Efeitos de Vivências Traumáticas em Crianças e Adolescentes, in. PsiqWeb, Internet, disponível em
http://www.psiqweb.med.br/, revisto em 2009

Infância e Adolescência: quando buscar ajuda?

Às vezes há grande dúvida sobre a necessidade de se recomendar ou procurar um tratamento psiquiátrico.
     

quando tratar


Não se sabe exatamente quando a criança deixa de lado a chupeta e adota o laptop, antes passando pelo celular. Antes parecia possível ver a criança passar serenamente para a pré-adolescência, desta para a adolescência e, paulatinamente, para o adulto jovem. Hoje o desenvolvimento da infância e adolescência é mais turbulento.
Entre a infância e adolescência existe a criança adolescentóide – arremedando o adolescente – com batom, celular e preocupado com grifes, cortes de cabelo fashion, bem como o adolescente com (ir)responsabilidades infantis. Participando desse desenvolvimento complicado existem no Brasil cerca de 5 milhões de crianças e adolescentes demonstrando problemas emocionais, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
A Associação Brasileira de Psiquiatria realizou, em parceria com o instituto Ibope, promoveu uma pesquisa nacional que estimou a prevalência de sintomas dos transtornos mentais mais comuns na infância e na adolescência (de 6 a 17 anos). Para essa pesquisa foram entrevistadas 2002 pessoas, em 142 municípios de todas as regiões do Brasil em outubro de 2007.
Aproximadamente 12,6% das mães entrevistadas relataram ter um filho com sintomas emocionais suficientes para necessitar tratamento (vem daí o número de 5 milhões). Dessas mães, 28,9% delas não conseguiram ou não tiveram acesso a atendimento público; 46,7% obtiveram tratamento no SUS e 24,2% através de convênio ou profissional particular. Em geral as crianças que não conseguem tratamento se desenvolvem mal e podem se tornar adultos vulneráveis e com dificuldades emocionais.
Segundo a pesquisa, a maior parte das crianças e adolescentes apresenta sintomas que somam mais de um transtorno emocional. Resumindo, são mais de 3 milhões (8,7%) com sinais de hiperatividade ou desatenção; mais de 2,5 milhões (7,8%) com dificuldades de leitura, escrita e contas (sintomas que correspondem ao transtorno de aprendizagem), mais de 2 milhões com sintomas de irritabilidade e comportamentos desafiadores e igual número com dificuldade de compreensão e atraso em relação a outras crianças da mesma idade.
Sinais importantes de depressão típica também aparecem em aproximadamente 1,5 milhão (4,2%) das crianças e adolescentes e mais 1,5 milhão delas apresenta transtornos ansiosos importantes. Mais de 1 milhão das crianças e adolescentes (2,8%) apresenta problemas significativos com álcool e outras drogas. Esta população parece ter enfrentado uma dificuldade ainda maior para conseguir tratamento. Na área de problemas de conduta, como mentir, brigar, furtar e desrespeitar, 1,2 milhão (3,4%) de crianças apresenta problemas.
SINTOMAS DE PROBLEMAS EMOCIONAIS MAIS FREQÛENTES* - %
Hiperatividade/Desatenção
8.7
Tristeza/desânimo/choro
4.2
Ansiedade com separação da figura de apego
5.9
Dificuldades com leitura, escrita e contas
7.8
Medos específicos (insetos, trovão, etc)
6.4
Ansiedade em situações sociais
4.2
Ansiedade com coisas rotineiras (provas, o futuro, etc)
3.7
Comportamentos desafiadores, opositivos/irritabilidade
6.7
Dificuldades de compreensão/atraso escolar
6.4
Problemas com o uso de álcool e/ou drogas
2.8
Mentiras/brigas/furtos/desrespeito
3.4
* - Dados da pesquisa da ABP coordenada pela Dra. Tatiana Moya - Release da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) de 10/10/2008, disponível em http://www.abpbrasil.org.br/sala_imprensa/releases/exibRelease/?release=115.
Quando se deve buscar tratamento psiquiátrico em crianças e adolescentesGeralmente as pessoas têm muitas dúvidas sobre a necessidade de uma criança ou adolescente procurar um tratamento psiquiátrico. E não se excluem muitos médicos desse público desorientado. Às vezes são os familiares ou amigos os primeiros a suspeitar que a criança ou adolescente precisa de cuidados psiquiátricos, outras tantas vezes são os professores quem primeiro observa a necessidade dessas crianças e adolescentes. Detectar precocemente eventuais problemas emocionais na criança ou adolescentes é fundamental para o sucesso do tratamento.
Entre aquilo que deve ser observado incluem-se os comportamentos, os problemas nas relações sociais e no trabalho (ou escola), as alterações do sono, da atenção, da adaptação e da alimentação, o abuso de álcool ou drogas, expressão exagerada das emoções, dificuldades em lidar com questões cotidianas. Perceber precocemente alterações no modo de vida ou na adaptação das crianças e adolescentes pode contribuir na identificação de problemas psiquiátricos no momento em que o tratamento seria mais eficaz.
A maneira de ser dessa criança ou adolescente deve ser especialmente valorizada, principalmente quando se estabelecem comparações com outras pessoas nas mesmas circunstâncias (importante ver também a página O Diagnóstico em Psiquiatria, na seção Temas Livres).
Na idade pré-escolar, em torno dos 6 anos, algumas patologias podem ser bem identificadas. Os quadros ansiosos, por exemplo, quando se manifestam através do quadro de Ansiedade de Separação da Infância são facilmente identificados. Esta situação se caracteriza por extrema recusa em separar-se da figura de maior ligação afetiva – geralmente a mãe. As características principais da Ansiedade de Separação da Infância são:
Relutância em se separar da pessoa de vínculo afetivo (em geral a mãe)
Preocupação excessiva em perder esse vínculo afetivo
Recusa ou grande dificuldade em ir para a escola
Medo exagerado de ficar sozinho
Pesadelos que envolvem separação
A depressão, por outro lado, não é facilmente diagnosticada na primeira infância ou na idade pré-escolar. Embora existam quadros depressivos nessa faixa etária, as classificações de doenças (DSM.IV e CID.10) não enfatizam esse diagnóstico, pois o quadro clínico de depressão na infância em geral é bastante atípico. Entretanto, existem outros sintomas psicoemocionais que podem ser indícios indiretos de um transtorno afetivo depressivo.
Os freqüentíssimos casos de Transtornos de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) são mais facilmente diagnosticados em crianças um pouco mais velhas, em torno dos 7-8 anos, embora eles já estejam presentes precocemente. Os principais sintomas a serem observados em relação ao TDAH são:
Desatenção em todos os níveis
Dificuldade em terminar tarefas
Dificuldade em seguir orientações
Perda de coisas, desorganização e esquecimento
Distraibilidade, inquietação (cadeira, mãos, pés)
Fala excessiva
Pouca sensação de dor
(Veja mais sobre o TDAH)
Quadros psiquiátricos mais graves, como por exemplo, o Autismo Infantil, o Transtorno Obsessivo-Compulsivo, a Deficiência Mental, também podem ser identificados nessas crianças mais novas, em torno dos primeiros 30 meses.
Os sintomas indicativos de possível problema emocional, de comportamento ou de desenvolvimento em uma criança em idade escolar que necessita avaliação psiquiátrica podem incluir qualquer dos itens abaixo:
1. - Redução significativa no rendimento escolarNeste caso pode estar em jogo alterações do interesse e da atenção. Problemas domésticos que causam preocupação excessiva à criança podem comprometer fortemente o grau de interesse e de atenção, assim como também as dificuldades na adaptação ao ambiente escolar que ocorrem em mudanças de escola.
A partir dos sete anos os problemas emocionais podem ser suspeitados principalmente em função do rendimento escolar e dos transtornos de aprendizado. A Depressão costuma estar associada ao declínio visível no rendimento escolar com início definido. O Déficit de Atenção, embora também se relacione ao desempenho, este se mostra contínuo e cronicamente baixo. A Deficiência Mental deve ser pensada principalmente quando se acompanha de uma série de outros sintomas.
2. - Redução significativa no interesse escolarA Depressão Infantil é particularmente acompanhada de desinteresse geral, tanto nos adultos quanto nas crianças e adolescentes. Ambiente escolar estressante, tenha origem nos colegas ou nos professores, também pode ocasionar aversão à escola e prejuízo do interesse. A falta de empatia com professores, eventual situação vexatória diante dos colegas ou bullying podem resultar em severo desinteresse (veja Dificuldades de Aprendizagem, na seção Infância e Adolescência).
As crianças portadoras de Déficit de Atenção, com ou sem hiperatividade, podem proporcionar grave desarmonia ambiental, seja por desentendimento com professores ou com colegas e, conseqüentemente, criar uma convivência estressante o suficiente para produzir desinteresse.
3. - Abandono de certas atividades antes desejadasAbandonar por desinteresse as atividades que antes davam prazer é outro sinal de Depressão Infantil. O sintoma de anedonia – incapacidade para sentir prazer – aparece tanto nas depressões dos adultos quanto das crianças.
O desânimo e o desinteresse levam a criança ou adolescente deprimido a um comportamento de retraimento, apatia e isolamento social. O desânimo é físico, como uma perda da energia global geralmente confundida com preguiça e responsável por muitos exames de sangue em busca de uma anemia que não se confirma. O desinteresse é emocional, é a perda do prazer ou gosto em fazer as coisas.
4. - Distanciamento de amigos ou familiaresO retraimento social, juntamente com a recusa em participar de compromissos familiares pode significar muitas coisas, desde a Depressão Infantil, Fobia Social, insegurança, até mesmo sentimentos de vergonha quando os pais brigam muito, quando um deles bebe, quando estão para se separar...
As crianças vítimas de abuso sexual ou de violência causada por babás, além de outros sintomas, podem apresentar distanciamento de amigos ou familiares, abandono de certas atividades, perturbações do sono com insônia inicial (causada geralmente por medo), inquietação, mudança de comportamento em relação ao agressor, irritabilidade...
5. - Perturbação do sonoOs exemplos de alterações do sono incluem o terror noturno, pesadelos, insônia e/ou hipersonia, sonambulismo, enurese (xixi na cama) noturna, bruxismo, etc. Essas alterações têm valor quando consideradas em conjunto com outras alterações de qualquer um dos demais itens apontados aqui.
6. Hiperatividade, inquietação, irritabilidade e/ou agressividadeQualquer uma dessas alterações acima pode representar um indício de depressão ou ansiedade infantil, cujos quadros, geralmente, são bem diferentes dos adultos. As manifestações atípicas da depressão na criança são tão comuns que boa parte dos casos diagnosticados como Déficit de Atenção com Hiperatividade é, de fato, reflexo de quadros depressivos infantis.
A alteração mais grave que apresenta agressividade infantil é o Transtorno de Conduta. Todo esforço deve ser empenhado para excluir esse diagnóstico, principalmente por se tratar de um problema de caráter e não ter cura (veja Transtorno de Conduta na seção Infância e Adolescência).
7. - Reações emocionais mais violentasAqui, como em outros itens, pode tratar-se de sinais de Depressão Infantil ou de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, porém, a irritabilidade é também comum em crianças portadoras de disritmia cerebral, embora os neurologistas insistam em dizer que não. Também podemos pensar em Transtorno de Conduta, como no item acima.
Se as explosões emocionais começaram de um determinado tempo para cá, ou seja, se não fazem parte da maneira de ser da criança ou adolescente, podem representar problemas vivenciais atuais, conflitos, medos, traumas.
8. - Rebeldia, birra e implicância, atitudes de oposiçãoExiste um quadro denominado Transtorno de Oposição na Infância ou Transtorno Desafiador Opositivo, onde a criança confronta qualquer tipo de autoridade, seja doméstica, social ou na escola. Felizmente a maioria desses casos não reflete um Transtorno de Conduta, como seria de se esperar, mas sim uma autoestima bastante baixa, necessidade de chamar atenção, sentimento de inferioridade.
9. - Preocupação e/ou ansiedade excessivasQuando crianças anteriormente bem adaptadas passam a apresentar preocupações de adultos, como por exemplo, questionamentos sobre a morte, saúde dos pais, segurança econômica, sobre o que fariam sem seus pais, insegurança com a economia doméstica, pode ser indício de depressão infantil.
Quais são os sintomas de um problema potencial em adolescentes?A entrada na adolescência traz mudanças significativas na pessoa, tanto do ponto de vista físico quanto emocional. O adolescente começa a valorizar o pensamento abstrato, nascendo daí a possibilidade fascinante do jovem estabelecer suas próprias hipóteses, teorias, opiniões e pontos de vista. Essas hipóteses permitem ao adolescente fazer suas escolhas.
Por outro lado, surgem as crises de liberdade e de responsabilidade. Infelizmente, é nessa idade também que podem surgir quadros delirantes e alucinatórios, depressões e tentativas de suicídio, bem como comportamentos delinqüenciais e outras patologias emocionais.
Vejamos abaixo os sintomas mais comuns e sugestivos de possível problema emocional em uma criança de mais idade ou adolescente. Muito embora os sintomas a serem observados sejam os mesmos da infância, o significado deles pode ser diferente nos adolescentes.
1. - Redução significativa no rendimento escolarA Depressão do Adolescente proporciona, tal como na criança e nos adultos, importante desinteresse geral. Ao invés da importância do ambiente e a falta de empatia com professores, como ocorre na infância, para o adolescente pesa muito os conflitos íntimos, os sentimentos de inferioridade, a baixa auto-estima, ou seja, os sintomas clássicos da depressão (veja Depressão na Adolescência, na seção Infância e Adolescência).
Entre os conflitos intrapsíquicos contam as frustrações com o sexo oposto, a exposição ao bullying, dificuldades de adaptação às mudanças de escola, cidade, país, cultura. É comum a queda do rendimento escolar quando o adolescente toma contacto com drogas, notadamente da maconha ou uso abusivo de álcool.
Outro fator que pode comprometer o rendimento escolar na adolescência são os surtos psicóticos, comuns nessa faixa etária. Nesse caso, muitos outros sintomas além do baixo rendimento escolar farão parte do quadro (veja Psicose na Adolescência, na seção Infância e Adolescência).
2. - Abandono de certas atividades, amigos ou familiaresMudança no grupo de amigos, afastamento repentino das atividades familiares e sociais habituais, abandono de atividades antes prazerosas, enfim, esse tipo de mudança brusca no comportamento do adolescente merece toda atenção. Tanto os quadros psicóticos quanto o uso de drogas podem resultar em afastamento das atividades habituais, dos amigos e familiares.
Por ordem de freqüência, o uso de drogas como causa dessas mudanças bruscas nas atitudes dos adolescentes é muito mais comum que o desenvolvimento de surtos psicóticos ou eclosão de depressão grave. Quando o problema é o uso de drogas, não há isolamento social, como acontece nas psicoses ou depressões, há sim, mudanças na conduta, no grupo de amigos...
Na Depressão, embora possa haver desânimo e desinteresse suficientes para que o jovem abandone algumas atividades, além do isolamento social percebe-se importante componente de tristeza e angústia, o que nem sempre acompanha as mudanças de comportamento no uso de drogas e nas psicoses.
3. - Alterações do sonoNa Depressão pode haver insônia. É comum, por exemplo, o adolescente ficar até altas horas ouvindo músicas em seu quarto. Pode haver também o contrário, ou seja, a hipersonia. Dormir demais pode ser uma tentativa de fugir de uma realidade angustiante.
Nos quadros afetivos bipolares, onde a depressão é intercalada de episódios de euforia, o jovem dorme muito pouco ou quase nada. Ele fica inquieto, agitado, hiperativo, falante e exageradamente animado. Nos casos de Psicose o sono pode desaparecer completamente. Surgem outros sintomas, tais como desleixo pessoal, apatia, estranheza e mudanças significativas dos hábitos.
4. - Alterações do ApetiteNas meninas adolescentes a falta de apetite ou anorexia tem sido o quadro mais freqüente de alteração alimentar. Podem surgir ainda crises de voracidade alimentar com bulimia ou não (veja Anorexia, Compulsão Alimentar e Bulimia, na seção Transtornos Alimentares).
Os adolescentes com Transtornos Alimentares normalmente apresentam obsessão pela forma física e podem, em casos mais graves, distorcer a auto-imagem corporal. Isso se observa quando se sentem gordos, apesar de estarem com peso bem abaixo do normal e, mesmo ainda, quando todas as outras pessoas não concordam com a opinião de excesso de peso.
Um sinal que chama a atenção para eventual Transtorno Alimentar é quando a adolescente faz uso abusivo, geralmente escondido, de laxantes e diuréticos. Na bulimia é comum a adolescente sair sempre da mesa e ir ao banheiro logo depois de comer.
O resultado da anorexia ou bulimia é a progressiva deterioração física e mental, começando com sintomas leves como queda dos cabelos, aftas, atraso menstrual, etc., até complicações cardiovasculares, renais e endócrinas graves e que podem levar a morte.
O Comer Compulsivo também pode ser uma alteração do apetite que acompanha transtornos emocionais na adolescência. Nesse caso a pessoa come compulsivamente grandes quantidades de comida, geralmente calóricas. Estados ansiosos geralmente resultam em compulsão alimentar.
5. - Agressões freqüentes, rebeldia, atitudes de oposição ou reações violentasA agressividade na adolescência é um problema complexo. O comportamento agressivo e violento pode ser um traço da personalidade. Neste caso a pessoa É agressiva. A agressividade pode surgir como uma mudança na atitude da pessoa que não era agressiva. Neste caso a pessoa ESTÁ agressiva. Em psiquiatria as mudanças do comportamento têm mais valor.
O comportamento rebelde, agressivo e violento pode resultar de modismo ou como um comportamento desejável no meio social do adolescente. Isso pode ser reflexo de um apelo de seu meio, do grupo social que pertence.
O comportamento agressivo pode, não obstante, refletir um conflito emocional íntimo e/ou um quadro depressivo, ou ainda, um sinal de abuso de drogas. Comportamentos destrutivos envolvendo vandalismo, incendiarismo, destruição de propriedades, normalmente acontecem na sociopatia, a qual, no adolescente, recebe o nome Transtorno de Conduta.
6. - Provocar dano a si mesmoIsso pode acontecer nos Transtornos do Controle dos Impulsos, por exemplo, na Tricotilomania (arrancar cabelos e pelos), na Auto-Escoriação da pele, na Auto-Mutilação, nas atitudes de vômito da Bulimia. Esses comportamentos auto-prejudiciais fazem parte dos transtornos classificados no Espectro Obsessivo-Compulsivo.
Transtornos de Personalidade graves, como por exemplo, o transtorno histérico e o transtorno borderline, ambas com início na infância e adolescência, proporcionam comportamento teatral de auto-agressividade e ferimentos auto provocados com propósitos de manipulação do entorno.
7. - Pensamentos de morte e/ou suicidasPensar na morte não é mesma coisa que pensar em suicídio. Pessoas deprimidas podem pensar que preferiam estar mortas, embora não pensem em se matar. O suicida, por sua vez, pensa em se matar.
A Depressão é a principal patologia relacionada à idéia de morte ou pensamento suicida. Não obstante, as psicoses também podem levar ao suicídio, geralmente decorrente de um delírio bizarro.
8. - Comportamento sexualizado excessivo e/ou precoceA expressiva maioria dos casos de atividade sexual precoce, notadamente nas meninas, parece ser estimulada pelas próprias mães. Estas, talvez devido a alguma fantasia íntima, acabam por estimular suas filhas a parecerem atrizes de novela, apresentadoras de TV ou outras personagens da mídia com notória atuação sexual. Esse fenômeno tem sido relacionado ao aumento na incidência de Puberdade Precoce e na precocidade da idade de iniciação sexual.
Fora esses casos de conotação cultural, o Transtorno de Conduta é a condição mórbida mais associada ao comportamento hipersexualizado em meninas e meninos. Em segundo lugar vem o Transtorno Afetivo Bipolar do adolescente, durante a fase de euforia, fortemente relacionado ao aumento da libido. Finalmente, alguns casos de Retardo Mental são também associados ao comportamento hipersexualizado.
10. - Mentiras, fugas, embusteEssas atitudes costumam aparecer nos transtornos do caráter, como por exemplo, no Transtorno de Conduta e, em alguns casos, nas depressões com prejuízo da autoestima.
Os pais, muitas vezes por conta do natural envolvimento afetivo, podem não perceber, não reconhecer ou não aceitar os problemas emocionais em seus filhos. Mas isso não exclui a existência de tais problemas, apenas retarda seu tratamento. Quanto aos educadores, muitas vezes são eles os primeiros a observar os sintomas iniciais de um problema psiquiátrico na infância e adolescência. Essa facilidade se deve, entre outras razões, ao fato de poderem ter uma crítica mais desapaixonada da conduta da criança ou do adolescente.
Uma doença psiquiátrica na criança ou no adolescente quando diagnosticada e tratada a tempo pode evitar importantes seqüelas na vida adulta. É fundamental detectar o problema e consultar com um especialista.
 
para referir:
Ballone GJ, Infância e Adolescência: quando tratar, in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2010.